quarta-feira, 28 de novembro de 2007

UM SIGNO NA PINTURA

Jorge Pinheiro, "A Comédia da Arte", 1998,130 cm x 195 cm, Óleo s/Tela



Jorge Pinheiro, "Porquê?", 130 cm x 162 cm, Óleo s/Tela



«Jorge Pinheiro: um pintor, um signo. Na procura de uma verdade pictórica, o pintor deixa percorrer a sua obra de uma luz que 'incendeia', com uma arqueologia nostálgica e com a fragilidade de uma existência longínqua, ícones, índices e símbolos.»
(Oferenda Esquecida, Textos de João Miguel Fernandes Jorge )


"Para Jorge Pinheiro o desenho é um instrumento de conhecimento do mundo; um conhecimento finito, lento, continuado em cada esboço, em cada fragmento. O desenho expressa a minúcia de um pensador sobre a consciência da metamorfose do corpo e da metamorfose da alma. A velhice é um dos seus temas. Algumas das figuras estão estendidas no leito de morte, parecendo esperar, pacientes, sem desafiar o destino. A delicadeza do traço na mancha do papel deixa vastos momentos de vazio, que ficam assim, dados à contemplação, entre a figura encolhida, à espera da sua vez, e o branco onde tudo poderia começar. Jorge Pinheiro desenha mãos, desenha rostos, desenha corpos, desenha os panos e os véus que os cobrem. Eu penso que o artista quer testemunhar o tempo e o seu poder de orquestrar o esvaimento. As figuras prostradas já estão docilmente dentro da noite serena. O poeta deseja a eternidade da luz e do incessante pulsar do frenesim do dia. Do not go gentle into that good night,/ Old age should burn and rave at close of day;/ Rage, rage against the dying of the light. [Dylan Thomas]. (Não entres docilmente nessa noite serena,/ porque a velhice deveria arder e delirar no termo do dia;/odeia, odeia a luz que começa a morrer). [trad. de Fernando Guimarães]. Eu diria que Jorge Pinheiro sabe que a luz se apaga e que não se pode pedir emprestada a luz das estrelas; mas também sabe que essa luz pode renovar-se. Ao lado de mãos gastas, aparecem mãos lisas, de crianças, gerações entrelaçadas ao ritmo da luz e da escuridão, da rapidez e da lentidão, do antes e do depois, do fim e da esperança."
(Fátima Pombo Porto, Outono de 2006)

Henrique Carvalho

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